• 16 de novembro de 2016

    Responsabilidade emocional

    – Não sei o que me deu.
    – Sabe.
    – Odeio quando você fala assim.
    – O que aconteceu?
    – Ele me falou que não iamos mais fazer a viagem.
    – E?
    – Eu fiquei braba oras.
    – E?
    – “E?” o que Akim?
    – O que você fez?
    – Tive um ataque de ciúmes.
    – Por?
    – Odeio isso… tá… “ele ama mais o trabalho que eu”.
    – Isso… viu? Você sabe o que te deu?
    – Mas vai ser sempre assim?
    – Ah, bem, aí é com você não é mesmo?

    As emoções são programas de ação, em sua maior parte involuntários. Porém, dizer isso não significa que não somos responsáveis em relação aquilo que sentimos e ao que fazemos com isso. O que é ter responsabilidade emocional?

    Desenvolver responsabilidade emocional significa assumir algumas premissas que se concretizam em alguns comportamentos específicos. As premissas que a pessoa emocionalmente responsável assume são: emoções são mensagens importantes sobre o que estou vivendo, é importante dar uma resposta à minha emoção, elas estão aqui para me ajudar a viver cada vez melhor. Estas três ideias são básicas para fundamentar a responsabilidade emocional porque colocam a pessoa como ativa em relação ao que sente e às ações que tem baseado nessas emoções.

    Um dos comportamentos que se desenvolvem com base nestas premissas é, por exemplo, conter impulsos. Vivemos numa era que fez uma enorme confusão entre controle e repressão. Repressão significa seguir um protocolo predeterminado à qualquer custo independentemente da funcionalidade desse protocolo. A repressão existe não como um “mal em si”, mas em relação à algo que se espera e deseja em termos de conduta. Já o controle de um impulso, é muito diferente, gosto de usar o termo contenção porque ele diz melhor o efeito que se espera: de conter uma energia ao ponto de poder decidir como usá-la. É o que se faz numa usina hidroelétrica: contemos o fluxo não para aprisioná-lo, mas sim para torná-lo energia elétrica.

    Quando a pessoa aprende a conter um impulso, ela desenvolve a percepção de que ela é dona dos seus músculos e que pode decidir como irá usá-los. A ideia de uma ação é função das emoções e a percepção dessa ideia faz parte da responsabilidade emocional com a pergunta: isso é, de fato, o que desejo fazer nessa situação? A vinda do impulso não preconiza que ele deva ser liberado. Um impulso é só um impulso e perceber isso nos traz maturidade.

    Outro comportamento que se baseia no controle de impulsos é o de refletir sobre como agir com base em suas emoções. Nem sempre a primeira ideia é a melhor. Em consultório, por exemplo, sempre busco trabalhar com meus clientes pelo menos três maneiras de reagir à uma situação emocional. A resposta que não serve para uma situação pode servir para outra e trabalhar dessa maneira nos faz flexíveis e criativos.

    Por fim, controlar impulsos, desenvolver respostas nos faz conscientes de nossa vida emocional e cria a sensação de parceria com ela. Essa sensação é o que chamo, por fim, de responsabilidade emocional: assumir que você sente emoções, que elas servem à você e não ao contrário. O fato de nossas emoções poderem sobrepujar nossa vontade não a faz inimiga: não escolhemos dormir ou sentir fome e mesmo assim essas sensações podem ser administradas, conhecidas e quanto mais nos aliamos à elas, melhor nos sentimos e mais saúde e bem-estar criamos para nós mesmos.

    Abraço

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