• 28 de novembro de 2016

    Curador ferido

    – Então até mais Akim.

    – Até, ótima semana.

    O cliente sai e desce as escadas feliz em encontrar uma resposta para os seus problemas. Sessão bem feita, produtiva. Fecho a porta e penso logo comigo:

    – É Akim, agora, depois dessa sessão você tem que tomar conta dos seus assuntos pendentes.

    – É… não dá mais para adiar. Realmente, depois de ouvir e falar com o cliente eu… me sinto incumbido de fazer algo.

    Mantenho a reflexão sobre o que e como fazer em minha mente me sentindo feliz também por ter encontrado na relação com o meu cliente algo que me curou.

    Um colega de profissão, certa vez, me disse que se você estiver no trabalho de psicoterapeuta e não tiver nenhum insight pessoal, não for tocado por nada e não aprender com as sessões alguma coisa está muito errada. Concordo.

    Acima de tudo, psicólogo são pessoas. Eles sofrem dos mesmos males que acometem todas as pessoas que eles mesmos tratam. O processo de terapia sempre mexe com o psicólogo de uma forma ou de outra, ao longo dos anos aprendemos a compreender as afetações que os outros causam em nós afim de poder atendê-los com qualidade. Porém isso não impede nenhum terapeuta de aprender junto com seu cliente, na verdade, na história da psicologia, grandes estudos nasceram exatamente desse tipo de situação.

    Este post é dedicado às pessoas que fazem terapia. É importante lembrar vocês que estar em contato com as suas dúvidas, neuroses, sonhos, comportamentos, sentimentos e pensamentos nos faz seres humanos e profissionais melhores. O psicólogo não apenas lhe ajuda, você também o ajuda a se tornar cada vez mais preparado para lidar com outras pessoas e consigo mesmo.

    Esta troca é um dos sinais de uma boa psicoterapia. Uma das funções do terapeuta é instigar e questionar o cliente. Uma das melhores formas de aprender a fazer isso é passar pelo processo de ser cliente e a outra é sendo questionado pelo próprio processo de terapia. Em outras palavras, quando o que a pessoa diz nos faz pensar em nossa prática, na nossa teoria ou na nossa vida pessoal isso é um triunfo. Estas questões nos farão ler, estudar, pensar, ir para nossa terapia pessoal e evoluir, é a maneira mais prática e profunda de “trocar conhecimentos”.

    Isso não significa que devemos debater isso com o cliente, porque este debate é inconveniente e contra produtivo para a terapia da pessoa, salvo casos muito específicos em que seja importante relatar algo de natureza mais acadêmica. Por este motivo escrevo este post: para agradecer aqueles que se submetem a tarefa de buscar um “eu” melhor através da terapia.

    Jung cita Quíron, o centauro que era imortal e aprendeu o dom da medicina com o deus Apolo. Este centauro fica conhecido como o “Curador ferido”, seu dom na cura dos males se dava pelo fato de experimentá-los e, incapaz de morrer, aprender como curá-los. O psicólogo é um tanto como este centauro, a partir de inúmeras histórias aprende como curar outras, a partir de sua história aprende a curar a de outras pessoas também e sem os clientes que atendemos nunca conseguiríamos fazer isso.

     

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