• 30 de novembro de 2016

    Limites

    – Mas Akim, porque eu vou fazer isso?

    – Não sei, porque?

    – Pois é! Se eu tomar esta decisão, me fecho nela.

    – Qual o problema com isso?

    – Não quero ficar preso.

    – Você só ficará preso se quiser. Tem uma diferença entre ficar preso em algo que não se escolheu e enfrentar as consequências da escolha que você fez.

    – Hum… não gosto muito disso.

    A noção de limite inexiste em nossa sociedade atual. Embora eles sejam extremamente necessários, cada vez mais a cultura busca destruí-los. Porém, como viver sem limites?

    Na verdade, não se vive sem limites. A tentativa cultural de buscar um mundo onde todos os limites sejam extintos é, por si, um novo tipo de limite. A questão sobre os limites não é destruí-los porque eles, em si, não são ruins. O limite pode se tornar nocivo dentro de determinados contextos, porém isso não se torna um motivo suficiente para extinguir todo o tipo de limite e tê-lo como ruim “per se”.

    Limites estabelecem regras de jogo, regras de convivência e embora você possa achar ruim seguir regras e achar que toda a humanidade viveria melhor sem elas… bem… isso é uma regra. O limite é fundamental, pois delimita e precisamos de delimitações. Ao contrário do reza a crença, limitar não impede o crescimento, mas o contrário, em geral, sim. Quando as regras não podem ser delimitadas o crescimento se torna complicado, moroso e, muitas vezes, impraticável.

    Sustentar a noção de que a delimitação é necessária também é fundamental. O problema de muitas pessoas é de simplesmente não conseguir aceitar a noção de perceber-se limitado. Queremos ser capazes de tudo, porém não somos. Ao aceitar limites você não se cerceia, pelo contrário, percebe suas reais possibilidades. Entendemos como imaturas as pessoas que acham que vão conseguir tudo, pelo simples fato de isso não ser real. Todos temos limites e cada um é diferente do outro.

    Isso implica, também, outra realidade de difícil digestão atualmente. Alguns movimentos não podem ser feitos ou caso sejam realizados implicarão, provavelmente em brigas e problemas. Não importa o quanto você ache a ideia de pessoas com diferentes ideias convivendo juntas bela: há um limite para isso. Dentro de um casamento, por exemplo, é muito difícil para pessoas com personalidades e ideias muito diferentes ficarem unidas. O casamento de um jihadista que coloca crianças para serem homens bomba e estupra mulheres com uma feminista bem definida, na minha percepção é praticamente impossível.

    Aceitar que não poderemos fazer tudo do nosso jeito, que algumas coisas deverão ser deixadas de lado ou que deveremos lutar para conseguir é uma perspectiva que as pessoas não compreendem. Desejam ser quem são sem o trabalho necessário de lutar por esta expressão. Acreditam no direito que possuem de ser quem desejam justificado pelo simples fato de existir. Isso é o exemplo de um limite disfuncional. Ele cria uma proposta, porém, ela não se verifica viável do ponto de vista prático.

    Por fim, gostaria de dizer ao meu leitor algumas coisas: 1. Não, você não pode tudo. Quem crê que tudo pode está se enganando, pensando que é um ser ilimitado, o que, pelo menos nesta encarnação humana, você não é. 2. Isso não faz de você algo ruim, pelo contrário faz de você quem é. Quem não pode tudo, possui certa delimitação e, por este motivo, identidade. Quem tudo pode não tem identidade central. 3. Realmente é importante achar que você pode tudo? Em geral as pessoas já tem um monte de dificuldades em seguir uma vida, porque querem ser capazes de viver mais que isso?

    Abraço

     

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