• 13 de outubro de 2017

    Gostem de mim (ou da minha máscara?)

    – Mas Akim, você quer que eu diga o que?

    – Não quero nada, apenas perguntei se você não pensa em dizer que não gosta do programa deles.

    – Imagina… eu nunca diria isso!

    – Porque?

    – Ora… porque não né? É falta de respeito, eles nunca iam me perdoar.

    – Então porque você não faz um programa com outras pessoas que gostam do que você gosta?

    – Ai Akim, daí o pessoal vai entender isso e vão me tirar do grupo né?

    – Você já está de fora.

    – Eu não, todos me amam lá

    – Amam você ou essa pessoa que você mostra? As duas são bem diferentes!

    – Você gosta de complicar Akim

     

    Todos querem ser amados. Não há nada de errado com isso, buscar pelo amor, pertencimento e aceitação do grupo são comportamentos da natureza humana. Porém, muitas pessoas, para atingir este fim, prestam atenção demais nos outros e terminam por cometer um equívoco: abrem mão de si.

    E, ao fazer isso, a pergunta que resta é: afinal de contas, de quem “eles” gostam: de você ou da imagem que você passa? Este é o drama de muitas pessoas. Não apenas com amigos, mas com a própria família. Em geral, o que aparece é a certeza da negação: “se eu não for assim, ela me larga”. O problema, muitas vezes, repousa na concepção que a pessoa tem sobre o que é pertencer e em outros casos, sobre algo que ela própria não aceita em si. A tarefa difícil de ser realizada em ambos os casos é questionar a “lei de pertencimento” vigente e ousar ser quem é.

    Pertencer, não é sinônimo de “ser para os outros”. Muitas pessoas, no entanto, acreditam que para fazer parte de algo é necessário servir este algo em prol de sua própria vida. A confusão é entre o papel de “membro” do grupo e de “serviçal” do grupo. Assim sendo “para não magoar”, “para não criar conflito”, a pessoa não expõe suas mágoas e para “não criar problemas”, ela não fala de seus desejos. O intuito de manter o grupo imutável para que ela continue pertencendo é uma forma distorcida de pertença.

    Em outro caso, a pessoa não expõe aquilo que quer ou deseja, não se expressa e nem entra verdadeiramente no grupo por causa da vergonha, medo ou culpa que sente em relação à algum pensamento que tem ou sentimento que nutre pelo grupo ou por si mesma. Muitas pessoas trazem isso na forma de um desejo velado, jamais visto ou revelado. Outras, sentem este ímpeto de ação, mas o sufocam com todas as forças para continuar mostrando algo que, julgam, será aceito pela comunidade. Neste caso, também deixam de lado uma parte de si.

    Em ambos os casos, o que ocorre é que a máscara criada para conviver com os outros se torna o objeto de admiração e amor. Em outras palavras, a pessoa que se esconde ensina os outros a gostarem de sua máscara ao invés dela própria. Ela se esconde, crendo que ninguém está vendo isso. Porém, é difícil não ver um adulto se escondendo. A verdade é que é a própria pessoa quem se oculta de si. O sentimento de pertencimento, então, se torna manchado com uma dúvida eterna: eles gostam de mim ou do que mostro?

    Esta dúvida pode se manifestar de maneira clara e literal, ou de formas veladas como um momento de raiva “sem motivo” por algum comentário de alguém ou com medo inexplicável. A dúvida também danifica a intimidade, pois, a própria pessoa sempre guarda para si suas opiniões e sentimentos. Esta falta de transparência consigo faz com que os relacionamentos fiquem, sempre, superficiais. O medo é ser deixado de lado, porém a prática já faz isso de uma forma ainda mais cruel: mantendo a pessoa “dentro” ao custo de sua integridade ter que ficar de “fora”.

    Abraço

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