– E aí foi isso, minha filha me visitou, depois de todo esse tempo e eu, simplesmente, não senti nada.
– Entendi… você já me contou que isso aconteceu outras vezes em outas situações não é?
– É.
– É como se você sentisse uma “indiferença” à essas situações?
– É… é bem isso. Estranho, mas é isso.
– Indiferença é uma emoção.
– Ã?
– É… é isso mesmo. Quando alguém é “indiferente” com você, você não sente?
– Sinto, é horrível.
– Pois é, indiferença é uma emoção. É uma forma de reagir afetivamente à alguma situação. Nos sentimos indiferentes, como se aquilo não pudesse nos atingir, nos afetar, não é isso?
– É!
– Pois bem, e o que aconteceria se isso te afetasse?
– Hum… acho que entendi…
– O que você entendeu?
– Sempre tive que ser forte sabe? E acho que, de alguma forma, ao longo dos anos ser forte se tornou ser indiferente. Sempre penso nas coisas como “é apenas mais uma coisa”… Mas é duro isso, porque parece que tudo meio que perde o sentido sabe?
– Sei. Sei bem como é.
– Porque se tudo “é apenas mais uma coisa” para que ligar ou me importar?
– Pois é. O que acontece se você liga ou se importa?
– Parece que eu fico mais fraca.
– Claro. Ser forte significava não sentir, se você sentir você é fraca. No entanto se você for “forte” a vida perde o sentido, ao passo que se for “fraca” a vida ganha sentido. Me diga será que não é o momento de você repensar o que é ser forte ou ser fraco? Ou quem sabe perguntar-se se forte e fraco se aplica à sua vida nesse momento?
– É… preciso mesmo… Sabe Akim, eu simplesmente não sei o que fazer se eu tiver uma perda, ou se eu estiver indo num caminho errado. Por isso nem quero pensar sobre sabe?
– Pensar não… sentir. Não é?
– É.
– Muito bem, agora você me deu a deixa que eu precisava. Está claro o que você tem que começar a aprender para “ser forte” de uma outra maneira: aprender o que fazer se tiver uma perda ou perceber que não está no caminho certo.
– Hum… é… verdade, nunca tinha pensado nisso.
– Ótimo, vamos pensar juntos então?
– Vamos!
“Não sentir” e “sentir indiferença” são duas sensações radicalmente diferentes.
“Não sentir” é algo que muito dificilmente sentimos. Quando uma situação não nos provoca uma reação emocional é porque ela é tão cotidiana que não precisamos de emoções para vivê-la, daí que não nos angustia.
Indiferença é uma emoção que, geralmente, está ligada à nos proteger de algum situação com a qual não sabemos como lidar, como resolver. Daí que quando sentimos indiferença rapidamente notamos porque ela é uma reação afetiva à uma situação. Diferente de “não sentir”, “sentir indiferença” é algo que de certa forma nos causa uma certa angustia.
Porque causa angústia?
A indiferença é uma emoção útil e adequada quando estamos numa situação em que o que ocorre não nos diz nada ou não nos toca de fato. Ou seja, realmente somos indiferentes à situação. Numa situação como essa a indiferença aparece e não nos angustia.
No entanto, aprendemos a ser indiferentes com situações que nos tocam, que dizem alguma coisa para nós e que não sabemos como lidar de uma forma adequada. Famílias que tiveram seus entes queridos perdidos durante uma guerra, por vezes geram um sentimento de indiferença para lidar com a dor e a dúvida de se o ente está vivo ou morto e se tornarão à vê-lo um dia. Num caso como este a indiferença está para proteger a pessoa das suas dúvidas, angústias e medos sobre o ente perdido. Embora proteja ela não é tão adequada pois está mascarando perguntas que precisam de respostas mais adequadas de um entendimento mais útil e que não seja facilmente projetado para as outras áreas da vida da pessoa – por exemplo, um filho que resolve se mudar ou ir estudar em outra cidade também pode sofrer da mesma indiferença.
Para a indiferença que angustia temos que nos perguntar: o que esta indiferença está protegendo? Que outras respostas posso dar para lidar melhor com essas questões?
Abraço
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