• 12 de junho de 2013

    Ansiedade de confronto

    – Eu tenho medo de falar isso Akim…

    – Eu sei, o que você acha que pode acontecer?

    – Ah sei lá… tenho medo de que se eu falar a coisa desse jeito ela me largue.

    – Pois bem, vamos considerar isso então: você está simplesmente dizendo que precisa de mais companheirismo na relação, não é isso?

    – Sim, é isso.

    – Isso é algo agressivo, inadequado ou é um pedido, uma solicitação de mudança de comportamento?

    – É só um pedido.

    – Ao qual ela pode dizer sim ou não, certo?

    – Sim.

    – Agora, se ela for mais além e disser algo do tipo: “Dane-se você e o seu desejo! Se não me quer assim vou-me embora, adeus”! O que você pode concluir disso?

    – Hum… acho que posso concluir que não ia dar muito certo de um jeito ou de outro.

    – Algo assim: ela simplesmente não quer nem ouvir a proposta, daí eu te pergunto: o que você está solicitando é algo inegociável para você?

    – É.

    – Então…

    – Então não tem muito o que fazer não é mesmo?

    – Você pode viver sem isso, ao preço da sua integridade e auto-estima, é uma escolha.

    – Entendi. Então eu acho que é assim: tenho que falar e dizer de uma forma adulta isso, sem medo, como… como não… eu sei que eu preciso disso e ouvir o que ela tem a dizer e dependendo disso até mesmo definir se vale à pena continuarmos porque talvez as nossas percepções de relação sejam muito diferentes.

    – Muito bom!

    – Vou fazer isso sim… tenho que confiar no que eu quero para mim.

    Confrontar é uma situação que sempre causa ansiedade. Alguns sabem usar esta ansiedade à seu favor, outros perdem-se nela.

    Confrontar significa “pôr-se face à face”, ou seja, ficar à frente de algo que também está de frente para você. Este “algo” pode ser uma pessoa, uma situação, uma escolha ou algo interno como um sentimento ou decisão. Porque ficamos ansiosos com isso?

    Um sociólogo cujo nome me esqueci disse certa vez que entrar em uma discussão de “forma verdadeira” significa ir para a discussão sem objetivos prévios à cumprir. Ele diz isso porque, na opinião dele, uma discussão não deve ter a função de declarar um vencedor, mas sim de elucidar pontos e chegar a entendimentos. A pessoa que se permite envolver pela discussão é aquela que poderá lucrar com ela sendo transformada por ela. Acho muito bela esta forma de pensar, no entanto, não saber para onde vamos é algo que pode causar ansiedade. Para fazer a relação com o nosso tema: nunca sabemos para onde um confronto vai nos levar, ao nos colocarmos “face à face” não sabemos como será o fim daquilo e o “pior”: estamos nos abrindo, nos expondo à algo. Não saber o desfecho e expôr-se são algumas das causas que mais nos deixam ansiosos em relação à confrontos.

    Quando a preocupação da pessoa está focada em “não saber o que vai acontecer” estamos lidando com as fantasias, medos e incompetências da pessoa. Obviamente ninguém sabe o que vai acontecer, mas quem não sente medo disso é porque tem auto-confiança, saber ganhar e perder, sabe dialogar, tem uma boa auto-percepção e tem instrumentos para conseguir se defender, quem não tem ou acha que não tem transforma a ansiedade em grandes medos que a paralisam. Aqui também pode entrar a questão de identidade que é quando a pessoa não se percebe merecedora de ganhar a disputa ou acha que não pode “incomodar” os outros. Muitas pessoas que atendi sabiam se defender, mas não achavam que era permitido à elas fazerem isso; tinham a crença de que seriam pessoas ruins se o fizesse e, por isso, acabavam por se calar.

    No caso da pessoa ter medo de se expôr temos que trabalhar o que torna este ato algo nocivo à ela. É muito comum  que as pessoas se exponham e depois “quebrem a cara” e acabem concluindo – erroneamente – que o ato de se expor foi o que a fez quebrar a cara. Este tipo de conclusão não aponta para o fator correto. Um exemplo clássico é quando a pessoa é “sincera”, muitas pessoas que tem esta característica falam o que pensam de qualquer forma e muitas vezes falam de forma inadequada e acabam sendo prejudicadas por isso. Concluem que ser sincero é o problema e não a falta de tato – que é, em muitos casos, o problema de fato. Assim sendo é importante checar quais as associações que a pessoa tem para com a exposição e verificar se estas associações são adequadas ao tema (expor opiniões, afeto, descontentamento ou desejos).

    Quando trabalhamos nesse sentido começamos a poder controlar melhor as possíveis conseqüências de um confronto deixando a pessoa mais confiante e mais solta para expôr seus desejos, ideias e descontentamentos. A identidade de “merecedor”, alinhada com crenças de auto-confiança e comportamentos adequados geralmente deixam a ansiedade de confronto num “ponto ideal”. Sim, porque nunca sabemos o que vai ocorrer em um confronto e por isso ficamos ansiosos, o que é bom, repito: é bom! Bom porque a ansiedade assim gerada faz com que a pessoa fique atenta e mais esperta para o que vai ocorrer com ela e isso é importante para qualquer confronto.

    Abraço

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