• 28 de dezembro de 2016

    Te quero tão bem, que te faço mal

    – Mas Akim, como é que eu vou relaxar se ela não está bem?

    – O que você sente sobre isso?

    – Que é egoísmo eu me sentir bem quando ela se sente mal.

    – Entendi. Porém, ela quer o seu bem não quer?

    – Sim, até onde eu sei, sim.

    – Então, será que ao vê-lo mal pelo mal-estar dela, ela não se sente culpada?

    – Ela até me falou isso já.

    – Então, mantendo-se preocupado, quem sabe você esteja contribuindo para o mal-estar dela ao invés do bem-estar?

    – Pode ser.

     

    É comum a preocupação em contribuirmos para a felicidade de quem amamos. Mas, por vezes, esse sentimento é confundido com responsabilidade pela felicidade do outro. Isso pode trazer prejuízos e acabar com a felicidade de ambos.

    Desejar o bem-estar de uma pessoa é diferente de ser ou sentir-se responsável pelo bem-estar. O mesmo vale para sucesso, felicidade e outros elementos que desejamos para quem amamos. Desejar o bem-estar do outro significa tê-lo em alta consideração e imaginar para esta pessoa aquilo que lhe fizer bem. Sentir-se responsável é colocar-se de maneira ativa na concretização desse bem-estar.

    O problema em relação à ser responsável pelo bem-estar de outra pessoa é que não podemos sentir pelo outro. Assim sendo, nos damos uma missão impossível de ser cumprida. A responsabilidade faz com que você se prenda à pessoa, visto que deve guardar e preservar o seu bem-estar. O responsável precisa verificar o tempo todo se o outro sente-se ou não bem e isso desgasta tanto os envolvidos quanto a relação.

    O responsável precisará abrir mão de sua vida para focar integralmente no outro. Ele perderá contato com aquilo que quer e deseja afim de manter-se sempre atento àquilo que poderá trazer bem estar ao outro. Essa perda de contato consigo traz um problema: muitas vezes o bem-estar do outro depende de nosso contato com nós mesmos e da manutenção do nosso próprio bem-estar.

    A pessoa que irá receber a “proteção” vê-se num beco sem saída. Ela precisa ser grata ao outro, visto que o mesmo está prezando pelo seu bem estar. Ao mesmo tempo, a gratidão forçada é impossível de ser mantida. Esse paradoxo é cansativo e traz culpa à quem recebe a “proteção”. A culpa se dá pelo fato de ser impossível sentir-se grato o tempo todo, pois, fatalmente o anseio do outro em manter o seu bem-estar irá fracassar. Como dizer não à alguém que quer o meu bem?

    A relação se prejudica porque a pessoa que se dedica ao outro esquece que é importante estar bem consigo mesmo antes de ter algo à oferecer para o outro. Assim sendo torna-se uma relação de dependência e culpa mútuas que excluem os reais desejos de cada um. Tudo gira em torno da pergunta: “você está bem?”. Isso é cansativo porque gera uma super atenção em cima de uma das partes enquanto a responsabilidade fica integralmente com a outra.

    Assumir a responsabilidade pela felicidade do outro é um desfavor à relação e ao outro. Colocar-se disponível para ajudar quando necessário é diferente. Estar aberto à fazer algo bom pelos outros, sem a responsabilidade por isso é construir uma relação onde o bem estar de ambos é respeitado. Isso não sobrecarrega nenhum dos lados e ambos podem ter espaço para sentir-se bem e mal contando com o apoio e não com a responsabilidade do outro.

    Abraço

    Comentários
    Compartilhe: