• 18 de novembro de 2019

    A dualidade da vida – e como lidar com ela

    – Mas e porque as coisas são assim?

    – Porque não seriam?

    – Ah… é difícil.

    – Sim, concordo. E ainda assim, esta é a vida.

    – Bela porcaria.

    – Este é um ponto de vista.

    – E qual outro?

    – Não sei, me diga você. É só uma preocupação minha contigo: a vida não vai mudar por você… nem por ninguém, mas me parece que tem quem consiga desfrutar disso… mesmo assim.

    – É…

    Prazer e dor. Alegria e tristeza. A vida não se mostra de uma forma única, ela sempre se apresenta em todo o seu esplendor. Porém, para nós, isso às vezes se mostra complexo e assombroso. Como vivenciar a vida em sua plenitude sabendo que ela traz a alegria mais profunda e a dor mais dilacerante junto consigo?

    Joseph Campbell tem uma frase sobre isso: “sim, ela é fantástica. Exatamente do jeito que é. É como uma ópera maravilhosa, só que dói”. A questão é que queremos dizer não à dor e ao sofrimento, desejamos eliminá-lo como se fosse algo naturalmente ruim. Porém, de que forma o sofrimento é ruim? Obviamente não é prazeroso, mas será que é “ruim”? Questionar esta noção moral que temos sobre o sofrimento é o primeiro passo para viver a vida em sua plenitude.

    Pois junto com a dor e o sofrimento caminham a força e o crescimento. Quem somos nós para julgar o sofrimento de alguém como “bom ou ruim” para esta pessoa? Quem somos nós para saber que não é isso o que ela “precisa”? (E isso é diferente de “merece”, pois esta também seria uma concepção moral). Não se trata de enaltecer o sofrimento, mas de compreendê-lo sobre uma outra perspectiva, uma que o inclui.

    Como seria incluir a dor e as transições imprevisíveis da vida? Dizer sim para estas tempestades que eclodem ao nosso redor transformando um belo dia em um ordálio de provas chatas e irritantes pode ser uma atitude considerada estranha, mas por que não? Afinal, como podemos negar isso? Acontece e acontece com todos das mais variadas formas. A chuva, como diz a Bíblia, cai sobre o justo e o injusto. A dor é para todos.

    A relação que você tem com o seu sofrimento é, também a relação que tem com seu desenvolvimento. Suportar emoções negativas e sensações desagradáveis faz parte da experiência humana. Dizer sim para isso, nos posiciona como humanos, faz parte da nossa humanidade. Quando conseguimos ver isso em nós, também conseguimos ver isso nos outros e nos tornamos mais humildes e mais fortes.

    A força surge por ser esta a realidade da vida e se você diz: ah, mas então porque lutar? É porque não entendeu o jogo. Não lutamos para negar a vida como é, lutamos para viver a vida como é. Participar de um jogo é assim, podemos perder, mas o jogamos mesmo assim, porque o divertido é jogar. Se julgamos a vida injusta, ela se torna árida e pesada. Se mergulhamos em seu oceano imprevisível, podemos aprender a amar a dor e com isso, ir para as profundezas quando a tempestade chegar.

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